terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Os melhores filmes de 2007

Lista feita por André Setaro, crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

1-) MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (Coeurs), de Alain Resnais, com Sabine Azéma, Laura Morante, Pierre Arditi, André Dussolier, Lambert Wilson. Um dos mais poéticos e abrangentes filmes sobre a solidão humana, "Coeurs" surpreende pela imensa poesia que Alain Resnais (com quase 90 anos) ainda consegue imprimir a seus filmes. Inventor de fórmulas como realizador cinematográfico, cineasta do "recuerdo", da necessidade da memória (o homem como matéria de memória), revolucionou a linguagem cinematográfica, traumatizando-a com "Hiroshima, mon amour" e "O ano passado em Marienbad" (1961). Diretor que se expressa unicamente pelo "pensar" fílmico, está sempre a inovar a cada filme que realiza. Apenas "corações", como quer o título original, que existem e sofrem na solidão. E Coeurs é um retrato desses corações solitários numa Paris esfuziante e incapaz de acolhê-los. O grande filme do ano e muito distante dos outros que vêm a seguir.
2-) CARTAS DE IWO JIMA (Letters from Iwo Jima), de Clint Eastwood, com Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya. Clint, a única reserva da tradição do grande cinema americano, conta, sob o ponto de vista japonês, a invasão pelos americanos da ilha de Iwo Jima durante a Segunda Guerra Mundial com uma narrativa quase "muscular", precisa, envolvente. Simultaneamente realizou A conquista da honra (Flags Of Our Fathers), que focaliza o drama dos americanos invasores e que, ao voltar para casa, são envoltos numa representação hipócrita do heroísmo.
3-) POSSUÍDOS (Bug), de William Friedkin, com Ashley Judd, Michael Shannon, Harry Connick Jr. Friedkin é o cineasta do timing, autor de um filme decisivo nos anos 70, Operação França, possuidor de um domínio formal completo sobre o seu veículo. Desta vez, ao invés do espaço aberto onde gosta de localizar a sua ação, tranca-se, em claustrofobia, com os atores e opera uma verdadeira "explosão" através de uma garçonete que, a fugir do marido, envolve-se com um veterano da Guerra do Golfo que é obcecado por insetos. Obra insólita e de inusitada importância.
4-) O IMPÉRIO DOS SONHOS (Inland Empire), de David Lynch, com Laura Dern, Justin Theroux, Karolina Gruszka. Obra que se propõe à desmistificação do império da fábula, isto quer dizer: por que um filme tem que dar tudo mastigado ao espectador? Lynch, neste filme, pretende estabelecer novos critérios na fabulação cinematográfica, a sugerir um novo processo de recepção pela "sensibilização" dos sentidos. Uma atriz (ou quantas?) se envolve, durante uma filmagem, com um ator conquistador a percorrer labirintos estranhos e inexplicáveis. O autor complica os elementos da fabulação a propor quase uma charada.
5-) JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho, com Marília Pêra. Filme do mais importante realizador brasileiro de documentários (Cabra marcado para morrer, Edifício Master...), trata-se de um documentário sobre a arte de representar que tensiona a relação entre a realidade e a ficção de maneira admirável, a mesclar mulheres "reais' e atrizes. O resultado é um fluxo de histórias absorventes e um discurso cinematográfico memorável pelas suas particularidades expressivas.

FONTE: Terra Magazine

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